quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Primeira partilha do serviço de Aline Ogliari

Dos primeiros passos e sentimentos no serviço da Secretaria Nacional da PJ


“Quem sabe isso quer dizer amor,
Estrada de fazer, o sonho acontecer...”
(Milton Nascimento)

Passado um mês da Ampliada Nacional da PJ, em Ribeirão das Neves/MG, senti a vontade de escrever uma pequena partilha de como tem sido viver esse início de processo, ou de um novo ciclo. Em um mês, já provei da saudade de casa e de “gentes”; já me senti perdida na quantidade de coisas para encaminhar; eu, menina do interior, já me impressionei em andar em São Paulo, já fui ao Pará (!) e andei uma hora e meia de balsa na travessia do rio Tocantins (!!). Mas, para eu conseguir me expressar melhor, preciso fazer memória do ciclo que estava vivendo.

Dia 25 de janeiro de 2014, nas páginas do meu projeto de vida e da minha história toda, estará para sempre guardado como um momento único, assim como o dia 18 de julho de 2011, quando comecei a trabalhar na Diocese de Chapecó, na liberação diocesana para as PJs. Mais ainda: ficará marcado como o dia 18 de fevereiro de 2006, quando assumi de fato, a minha vida no grupo de base. Talvez não tivesse clareza do tamanho do compromisso que assumia nesse momento, e que fez com que a minha caminhada e militância fosse para contribuir, junto a tant@s, na construção de espaços de vida para os todos e todas, em especial para a juventude, a partir de uma fé encarnada e libertadora que a Pastoral da Juventude nos provoca a viver.
Lá se vão 08 anos, e eu ainda estou a descobrir e a me encantar cada vez mais com esse jeito de ser Igreja Jovem, Igreja CEBs, Povo de Deus, profética e testemunhal. De formas e intensidades diferentes, isso acontece com tantos jovens e tantas jovens que se colocam na vivência de um grupo de base da PJ em qualquer canto do Brasil e da América Latina; que se encantam, que choram, que amam e constroem espaços fraternos e de partilhas em suas comunidades e paróquias, e que mesmo sem saber, se predispõem a todos os serviços que essa pastoral pode vir a precisar  mais adiante.
Para mim, o tempo de serviço dedicado na Diocese foi muito forte. Amadureci mais ainda minha fé e a identidade eclesial que acredito, e tenho certeza que uma Igreja só será de fato profética e do povo se ela for coerente às práticas libertadoras de Cristo, independente da cristologia que a orienta. O tempo foi de saída desse espaço, e eu refleti muito isso – o processo posterior, o acompanhamento, e no fundo também na dor da despedida, mas acima de tudo na alegria em saber que sempre vou ter dessa água da fonte para beber e que a acolhida recíproca sempre acontecerá.
Foram muitos os nomes que me marcaram nesse tempo e que deixaram traços únicos em minha personalidade e no meu jeito de fazer e acreditar na PJ e nesse modelo de Igreja. Mesmo sabendo que vou esquecer alguém importante, queria lembrar alguns companheiros e companheiras que estiveram juntos no cuidado, nos sonhos, na partilha em tardes, madrugadas, rodas de chimarrão, nas andanças pelas estradas, e que me inspiram muito: Xarope, Tiago, Lila, Fernanda, Paulinha, Thiesco, Candin, Uilian, Josy, Cris, Claudinho, Iva, Thuane, Domingos, Priscilla, Szymanski... Cada um com o seu jeito nas histórias construídas em “nossos causos”.
Dizer “sim” ao serviço da Secretaria Nacional da Pastoral da Juventude não foi fácil. Foram tempos de rezar o projeto de vida, de se retirar e de ouvir. Eu encontrei muito apoio na Diocese, sejam das lideranças leigas, jovens ou não, sejam de padres, religiosos/as, e seja do meu bispo. Não foi fácil dar a resposta e nem está sendo fácil ainda “assimilar” que eu, uma jovem do interior de uma cidade pequena do oeste de Santa Catarina, na simplicidade e na humildade de quem muito pouco tem para oferecer, mas que oferece tudo o que possui, estarei nesse serviço nos próximos três anos...
A caminhada e a construção do Reino exigem zelo, prudência, testemunho, coerência, fidelidade. Para nós, seguidoras e seguidores de Cristo, que provamos dessas dimensões todos os dias, sabemos o quão difícil é seguir esse “guri”. Talvez, a coerência, e consequentemente a fidelidade, sejam as mais difíceis de viver e, ao mesmo tempo, são as mais testemunhais. Não é fácil “ser fiel às pequenas coisas para poder o ser nas grandes” (cf. Lc 16, 10).
A responsabilidade é muito grande! Ajudar a cuidar, de um lugar diferente e que às vezes pode parecer distante, dos mais de nove mil grupos de base da PJ, dos/as jovens que fazem parte deles e da dinâmica de organização de cada lugar, é, sem dúvida alguma, uma missão gigantesca e que eu sei que só é possível porque não estamos caminhando sozinhos e sozinhas. Tem muita gente amando e contribuindo de forma verdadeira, gratuita e desinteressada. Isso me deixa feliz e mais segura para estar no serviço da Secretaria.
Uma vez o meu pai me disse que “muitas seriam as dúvidas, as angústias, os medos e os desejos de desistir e de voltar para casa; muitas seriam [e são] as crises de opção e de fé, mas que eu não esquecesse que acima de tudo está o Reino, que ele é o nosso Horizonte. Para ele, tudo de nós”... O seu Mateus não foi o primeiro que falou isso, e nem será o último (ainda bem!).
É por esse Horizonte que nós caminhamos e doamos nossas vidas, e não podemos jamais duvidar e perder ele de vista. Na subversividade que é caminhar rumo a esse Horizonte, não podemos perder também a ternura, a profecia e a esperança; e nem duvidar do sentimento que nos guia: sim, eu sei que é amor. Só pode ser! “Se não for amor, o que será?”.

Um abraço grande, na ternura e na certeza do Reino,
Aline Ogliari

 Brasília/DF, 25 de fevereiro de 2014.
Autor/Fonte: Aline Ogliari

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